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-De onde vem o pinhão?

Você com certeza já provou algum prato feito com pinhão, não é? Muito consumido principalmente no Sul do país, seja cozido, assado ou em pratos típicos da região, no outono e inverno o pinhão é a estrela da mesa. Além de muito saboroso, é rico em valor calórico, fornecendo energia para os que o consomem, e também em sais minerais, ômega 6 e ômega 9.


Até aí sabemos que o pinhão pode ser um alimento bastante importante, seja em fornecimento de energia ou mantendo as tradições culturais. Mas você sabe o que é e de onde vem o pinhão? Sabia que ele pode ser importante para a sobrevivência de diversas espécies, mas que em breve talvez não tenhamos disponível esse item alimentar?


O pinhão é a semente de uma árvore que já foi bastante distribuída pelo Brasil, a araucária (Araucaria angustifolia). Nativa do Brasil a araucária ou pinheiro-brasileiro é uma espécie de planta característica de formações florestais da Mata Atlântica conhecidas como Florestas Ombrófilas Mistas (florestas ombrófilas são aquelas que possuem períodos de chuva o ano todo).


Estado atual das Florestas com Araucária


Originalmente a Mata Atlântica era responsável por abranger em torno de 15% do território brasileiro mas, hoje são apenas 7,9% da área original bem conservadas, o que demonstra uma grande fragmentação. A Floresta Ombrófila Mista, além do pinhão, possui grande diversidade de fauna e flora, relevância na área de paleobotânica (área que estuda fósseis de plantas) e ainda grande beleza cênica.


No estado de Santa Catarina as matas responsáveis pelo fornecimento de pinhão já ocuparam cerca de 42% do território, mas assim como o restante da Mata Atlântica, vêm sendo muito degradadas e hoje ocupam uma parcela muito menor se comparada à sua distribuição original. Isso se deve à exploração desenfreada da araucária. Segundo o Centro Nacional de Conservação da Flora (2012), a Araucaria angustifolia, está classificada como em perigo de extinção.


Desde o início do século XX que a exploração das araucárias vem acontecendo no estado e ela não se restringe à extração do pinhão. A partir da primeira década, com o surgimento de empresas madeireiras, a exploração aumentou muito, o que resultou em pelo menos 4 milhões de araucárias cortadas em menos de 30 anos. Não bastando a vasta exploração da espécie que já estava ocorrendo, entre as décadas de 1950 e 1970 a madeira de araucária se tornou um dos itens mais exportados pelo país, podendo estimar o corte da espécie, até a década de 1990, em torno de 100 milhões de indivíduos. Unindo-se a esse histórico, ainda são ameaçadas pelo desmatamento, queimadas, agricultura e pecuária.

Com toda a degradação hoje somamos uma perda de 98% da distribuição inicial das florestas de araucária. Desses 2% restantes, que podem ser distribuídos em torno de 4.000 km², menos de 1% está dentro de Unidades de Conservação e toda a distribuição é bastante fragmentada.


Parque Nacional das Araucárias


O Parque Nacional das Araucárias (PNA), é uma Unidade de Conservação criada em 2005 e fica localizada entre os municípios de Ponte Serrada e Passos Maia, no oeste de Santa Catarina. A Unidade de Conservação possui como objetivo a preservação dos ambientes ali presentes, principalmente os remanescentes de Floresta Ombrófila Mista.


Parque Nacional das Araucárias no Oeste de Santa Catarina © Vanessa Kanaan


Considerando que as Unidades de Conservação que possuem em sua extensão matas de araucárias são extremamente importantes para a manutenção do pouco que ainda nos resta, o PNA exerce um importante papel em sua conservação e ainda possui um dos maiores remanescentes das florestas de araucária de Santa Catarina, além de ser também um dos mais bem conservados.


Como a Mata Atlântica é conhecida por sua riqueza em espécies que ocorrem exclusivamente neste ambiente, não somente a araucária é uma espécie que corre risco de extinção, mas muitas outros vegetais e animais estão ameaçados com a devastação das matas, como é o caso do papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea).


Relação entre espécies animais e o pinhão


O papagaio-de-peito-roxo vive exclusivamente em ambientes de Mata Atlântica, mais precisamente nas florestas de araucária. E, assim como para as tradições regionais, a época de pinhão é muito importante para esta espécie de papagaio.


Entre os meses de abril e agosto ‒ época de maturação do pinhão ‒ os outros itens alimentares que compõem a dieta do papagaio-de-peito-roxo (flores, frutos, sementes e folhas) estão mais escassos e o pinhão passa a ser sua principal fonte de alimentação.


Papagaio-de-peito-roxo se alimentando de pinhão no Parque Nacional das Araucárias © Vanessa Kanaan


Não só o papagaio-de-peito-roxo, mas muitas outras espécies têm o pinhão nessa época do ano como sua fonte alimentar, como por exemplo o papagaio-charão (Amazona pretrei), a gralha-azul (Cyanocorax caeruleus), entre outros animais, que incluem até mamíferos (como pequenos roedores).


Muitos deles, como é o caso do papagaio-de-peito-roxo, além de se alimentar do pinhão, ainda são agentes dispersores da semente, pois quando se alimentam, derrubam pelo caminho muitas delas, garantindo que novas mudas nasçam e as florestas possam continuar se regenerando.


Dessa forma, a existência da floresta é importante para muitas espécies, bem como a existência desses animais dispersores é importante para a continuação da existência das araucárias.


Defeso do pinhão


Como você viu, uma das ameaças à araucária é a extração ilegal do pinhão. Talvez você não saiba, mas existem datas corretas para que o pinhão possa ser coletado. O IBAMA através da portaria normativa n. 20 de 1976 proibiu a coleta de pinhão antes do dia 15 de abril em todo o país. Isso porque, antes disso elas estão imaturas e a sua coleta interrompe o processo natural de liberação de pinhão, que a partir dessa data já começou a se soltar sozinho, ou seja, quando a pinha já está em seu processo de maturação e soltando o pinhão, garantimos que parte fique no chão e possam gerar novas mudas e a floresta se regenerar.


No estado de Santa Catarina há uma exceção, é permitida a coleta do pinhão a partir do dia 1 de abril. Mas da mesma forma, a recomendação é de que as pinhas coletadas sejam aquelas que já caíram no chão e estão maduras.


Por isso fique atento, não compre ou colete pinhão antes da data permitida. Garantir que sementes da espécie possam ser dispersadas é garantir que tenhamos pinhão no futuro e que outros animais também continuem existindo.



Fontes:

Consumo de pinhão por Amazona pretrei e Amazona vinacea

Decreto de 19 de Outubro de 2005- Criação do Parque Nacional das Araucárias

Fragmentação da Floresta com Araucária

Lista vermelha da flora brasileira ameaçada de extinção

Portaria normativa n. 20 de 1976

Projeto Araucária

Valor nutricional do pinhão

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